domingo, 2 de outubro de 2011

Percepção ou o que?

A onde se encontra a percepção?

Em que nível isso se dá?

A percepção é uma ação puramente sensorial? Ou a interpretação da simbologia dos sons pode nos orientar?

Isso pode ser ensinado? Se pode, como fazer?
                                                                      
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            Perceba!
            Percebeu?
            Na educação musical, a percepção, invariavelmente está calcada em metodologias que propõem o entendimento e a apreensão do ‘signo’ dos sons. A prática, neste contexto, é variável dentro da disciplina, estando muitas vezes subordinada a exercícios ortodoxos que se adéqüe as necessidades do aprendiz. Irreversivelmente, a prática é colocada aos ventos do acaso, onde não raro, encontram-se inúmeras tentativas que nada se aproximam da apreensão do “signo” (estágio puramente lingüístico), e que provocam experiências confusas e rasas nos aprendizes.
            Tentarei elaborar um breve raciocínio em torno deste assunto, pois tenho observado que a percepção ocorre nas mais variadas formas, que os cursos arbitrariamente reduzem a prática à realização de exercícios rígidos, dispondo de pouco tempo e que também eliminam os demais fomentos necessários que contribuiriam positivamente ao entendimento real.  


O verbo e o resultado da ação.
            A palavra percepção é um substantivo feminino que traz na sua tradução algumas indicações presente em escritos filosóficos de Hegel ¹ e Descartes ². Na analise de Hegel e Descartes, pode-se notar uma aproximação da ação e da interpretação do objeto a ser ‘percebido’.
               
Percepção: S.F – apreensão da realidade ou de uma situação objetiva pelo homem. Seu resultado: a percepção das cores. Reação de um sujeito a um estímulo exterior, que se manifesta por fenômenos químicos, neurológicos, ao nível dos órgãos dos sentidos e do sistema nervoso central, e por diversos mecanismos psíquicos tendentes a adaptar esta reação a seu objeto, como a identificação do objeto percebido (ou seu reconhecimento), sua diferenciação por ligação aos outros objetos etc.
            
       Observe na tradução da palavra, que a reação a um estímulo externo, neste caso a música, pode desencadear uma série de sensações diversas no nosso corpo, e que estas sensações são adaptadas por mecanismos psíquicos, que por sua vez, identifica e faz uma ligação a objetos já interpretados outrora. Neste ponto, Hegel e Descartes convergem na construção deste raciocínio, refletindo sobre a sensação que temos ao observar um objeto.

“Como me proponho a tratar aqui do tema da luz, a primeira coisa que gostaria de vos advertir é que pode existir uma diferença entre o sentimento que nós temos da luz, isto é, a idéia que se forma em nossa imaginação mediante o concurso de nossos olhos, e aquilo que está presente no objeto – mais precisamente na chama e no sol – e que produz em nós esse sentimento, para o qual dá-se o nome de luz.”
Descartes, René – O mundo ou o tratado da luz. Capítulo – Da diferença que há entre nossos sentimentos e as coisas que os produzem. (1637)

“Pois na arte temos que ver, não através de um simples jogo agradável ou útil, mas... através de um desdobramento da verdade.                   
Hegel, Georg W. F. – Estética, III.

            Em Descartes, há uma diferença entre o sentimento que se tem no momento da observação, que por sua vez, forma uma idéia diante do que esta sendo observado – e o objeto em si. Na citação de Hegel, a verdade é o ponto inicial para a compreensão da arte, advertindo sobre práticas passivas.
            A Estética é uma palavra de origem grega e é um ramo da filosofia voltado para o estudo da natureza do belo e os fundamentos da arte. O seu significado em latim traz consigo um sinal de que a percepção deve ser estuda considerando outros aspectos que envolvem a arte.


Estética – Percepção – Arte
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                                        Aisthesis
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                                         Sensação

            Estética vem do latim Aisthesis, que significa sensação.
           
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            Caminhos e reflexões

            Assim como já mencionado no início do texto, a percepção se revela nas mais variadas formas. O ouvido absoluto é uma discussão sem precedentes, pois, não se sabe se nascemos ou se podemos adquirir através do treinamento do ouvido interno. Isso não muda em nada a reflexão sobre o assunto, essa questão sempre irá pairar sob nossas cabeças – Agora! Explique como uma criança de tenra idade percebe acordes inteiros, sem compreender as leis da harmonia e da estética? Ou, como um músico leigo em relação aos ditos eruditos em muitas vezes são mais sensíveis aos sons?
            Algumas questões parecem incomodar, justamente por tornar o assunto muito complexo e interminável. O ser humano tem o comportamento de reduzir as coisas e isso por vezes acaba extinguindo alguns caminhos preciosos para uma devida compreensão do objeto. Nos cursos superiores de música, esta disciplina é desenvolvida de maneira muito racional e compartimentada em níveis pouco compreensíveis e progressivos. Se a idéia da interpretação de nossas impressões é um caminho evidentemente confiável, qual motivo me leva a crer que a repetição de exercícios intervalares e rítmicos pode acrescer algo na minha percepção e na construção do ouvido interno? Há em muitas salas de aula uma enorme discrepância entre alunos que já possuem um nível de percepção brilhante, diante outros que passam toda a disciplina sem nada aprenderem. Isso é culpa dos alunos? Ou será uma má elaboração e aplicação dessa disciplina? Afinal, todos estão lá para aprenderem a se sensibilizar diante aquilo que se escuta! Alguém tem duvida sobre isso?
            Se o desdobramento através da verdade proposto por Hegel for o caminho a percepção mais ligada a sensibilidade, deveremos considerar que somente a impressão das coisas não será suficiente, visto que estamos ligados aos mecanismos psíquicos da mente – todavia, a música é algo que está em movimento, pensar em uma aula que busque a simplicidade do movimento e uma aplicabilidade que considere mais do que exercícios ao piano, será possível criar uma nova imagem que dê pistas a essa construção interna da percepção e para desvendarmos essa verdade.
Criemos novos caminhos!

Obrigado

plíniopaludetto





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Reflexões

(...) A arte é algo que está em vida, ou seja, algo que irradia uma vibração, uma presença. (...)
Luís Otávio Burnier
Lume